Rogério A. Queirós*
Apesar do tamanho do mercado brasileiro de telefonia celular, o conceito de MVNOs (Mobile Virtual Network Operator) ainda é pouquíssimo explorado no Brasil. De acordo com os dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) o País fechou o mês de março deste ano com 242,8 milhões de celulares, o que representa uma densidade de 117,2 celulares a cada 100 habitantes do País.
Isso representa um espaço imenso para quem se dispõe a trabalhar com este mercado. Retomando o conceito, uma MVNO é uma operadora que não possui rede ou frequência próprias. Para funcionar, ela utiliza as redes das operadoras tradicionais, comprando no atacado pacotes de utilização (SMS, dados, voz etc.). Como paga um valor com desconto em relação ao preço médio do varejo, pode repassar os benefícios ao mercado.
O modelo faz sentido para empresas que atuem em nichos específicos e queiram reforçar a marca junto ao seu público. Estas empresas podem centrar seu foco em mercados com necessidades específicas. Mais que isso, podem oferecer o serviço de telefonia móvel com menor custo operacional e de aquisição. Outro diferencial que pode ser oferecido por elas é a agilidade no lançamento de produtos e soluções, como novos planos, compartilhamento entre clientes etc.
Na prática, os maiores benefícios para a criação de um MVNO são a associação da marca a um provedor diferenciado de telecomunicações, além da possibilidade de parcerias que proporcionam serviços de valor agregado (SVA) únicos para aquele segmento. Com isso, a empresa que adotar o modelo consegue fidelizar clientes e criar ações de marketing/relacionamento em uma nova plataforma. Vejam o exemplo da Porto Seguro, que lançou há quatro anos a Porto Seguro Conecta, primeira MVNO a atuar no Brasil.
A operadora virtual possui hoje cerca de 400 mil linhas ativas e foi classificada, em 2016, em primeiro lugar na Pesquisa de Satisfação e Qualidade Percebida das Anatel. Quem vai pelo mesmo caminho são os Correios, que deve anunciar em breve a Correios Celular. Nos dois casos, o que vemos são marcas tradicionais lançando operações celulares e, com isso, agregando uma boa base de clientes.
O modelo de negócios é interessante, trazendo ganhos tanto para as operadoras reais quanto para as virtuais já que, no final do dia, o que se vê é o aumento da utilização dos serviços de telecomunicações, com a ‘aquisição’ de clientes que possuem demandas ainda não prestadas pelas operadoras tradicionais.
Os Correios, por exemplo, anunciaram que vão aproveitar sua capilaridade para oferecer aos que não tem acesso ao atendimento tradicional, chips e recargas de planos pré-pagos. Somente a partir de 2018 é que devem iniciar os estudos de viabilidade para a oferta de planos pós-pagos.
Apesar das vantagens do modelo, o potencial do mercado local ainda é proporcional ao correto entendimento do que seja a prestação de um serviço diferenciado e adequado às necessidades de um determinado perfil de cliente. Mas, o quadro está mudando e em breve veremos mais MVNOs chegando onde as operadoras tradicionais não chegam.
*Rogério A. Queirós é Gerente de Planejamento Comercial da Cleartech