Valor Econômico - 09/11/2012
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Aprovado
na semana passada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o
Plano Geral de Metas de Competição (PGMC) pretende aumentar a
concorrência e baratear
os custos da telefonia para os consumidores. Da forma como saiu do
forno, porém, é apenas um meio passo na direção ambicionada.
Desde
que a telefonia brasileira foi liberada das amarras da Telebras, com a
privatização da estatal em 1998, muito se avançou na disseminação dos
serviços. Na época,
era preciso esperar na fila até cinco anos para se comprar uma linha
nos grandes centros e o preço chegava a US$ 5 mil. Ter um telefone
chegou a ser alternativa de investimento e o precioso bem era declarado
no Imposto de Renda (IR). Quando a Telebras foi
privatizada, havia 20 milhões de telefones fixos e cerca de 7 milhões
de celulares.
A
privatização buscou corrigir esses problemas, aumentar a oferta de
linhas e baratear os preços ao estimular a concorrência na área. Parte
desses objetivos foram
atingidos. Existem atualmente 43 milhões de telefones fixos, mas a
população preferiu a mobilidade, e os celulares chegam a 258 milhões de
linhas, das quais 210 milhões pré-pagas. Há mais telefones do que
habitantes no país.
Apesar
de a oferta de telefones ter crescido exponencialmente e não haver mais
pedágio para aquisição das linhas, os preços dos serviços subiram,
especialmente nos
celulares, e o atendimento ao consumidor ainda deixa muito a desejar.
Os problemas com telefones lideram o ranking de reclamações aos Procons.
O
resultado é que, apesar da disponibilidade de linhas, as conversas têm
que ser rápidas e poucas. O brasileiro usa o telefone, em média, 110
minutos por mês. No
México, o consumo é quase 70% maior, 185 minutos; e nos Estados Unidos
chega a 950 minutos por mês.
Uma
das principais distorções está no mercado brasileiro de telefonia
celular pela prática de elevadas tarifas de interconexão para as
ligações feitas entre pessoas
que possuem linhas de operadoras diferentes. Como informou em artigo
publicado no Valor (30/10) o ex-presidente do Cade, Gesner Oliveira, a
tarifa de interconexão das operadoras brasileiras é 6,2 vezes mais cara
do que no México; 5,3 vezes maior do que na
Espanha e Alemanha; e 9,7 vezes a do Reino Unido.
Ao
mesmo tempo em que as operadoras brasileiras cobram caro nas ligações
para celulares de outras companhias, incentivam as conexões para
celulares de sua própria
rede com promoções variadas. O custo de se ligar para um celular de
operadora diferente chega a ser seis vezes maior. Essas práticas levaram
o brasileiro a colecionar chips das mais variadas companhias para
driblar a tarifa de interconexão e aproveitar as
promoções. Por isso, no mercado brasileiro, cerca de 80% das ligações
são feitas entre celulares da mesma operadora, o chamado "efeito clube".
Do
ponto de vista do mercado, como analisou o ex-presidente do Cade, as
elevadas tarifas de interconexão cobradas pelas grandes operadoras são
barreiras à entrada
de potenciais competidores. Com novas operadoras no mercado, haveria
mais concorrência, serviços melhores e preços menores.
A
Anatel atacou esse problema no Plano Geral de Metas de Competição,
estabelecendo que as empresas com poder de mercado significativo -
Claro, Oi, Tim e Vivo, no
caso do celular - devem cobrar das operadoras menores tarifas de
interconexão gradualmente decrescentes. Segundo estimativa do relator do
plano, o conselheiro Marcelo Bechara, a tarifa de interconexão vai cair
62% em três anos, dos atuais R$ 0,42 para R$ 0,16
em 2015.
Operadoras
pequenas, sem cobertura nacional, como a Sercomtel, do Paraná, e a
CTBC, que opera no interior de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso do Sul,
deverão pagar taxa menor de roaming. As empresas terão ainda que
compartilhar torres, dutos, valas e cabos.
O
Plano de Metas é um avanço em relação às regras atuais de tarifação dos
serviços de telefonia, mas muito ainda precisa ser feito. Mesmo com a
redução gradual de
pouco mais de 60%, a tarifa de interconexão brasileira ficará acima dos
R$ 0,10 cobrados nos Estados Unidos e R$ 0,07 da Europa. A Anatel
preferiu ainda não interferir nas tarifas de interconexão cobradas entre
as operadoras com participação de mercado significativa,
que são as que reúnem maior número de usuários, apostando que o mercado
vai naturalmente convergir. Mas isso não ocorreu até agora. Além disso,
as redes de fibra óptica ganharam o "feriado regulatório" de nove anos,
período durante o qual não precisarão ser
compartilhadas.
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sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Há espaço para ampliar a concorrência na telefonia
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